Sol de 34 graus, recebo uma ligação no meu celular. Meu namorado me fazendo um convite para irmos à praia. Aceitei na hora, óbvio, um calor desses, o melhor que poderia fazer é encarar o sol, revê-lo - tomar uma cerveja gelada e comer um caranguejo.
Escolho meu melhor biquíni e lá me vou. Marcamos ás 10h30min no meu prédio e lá decidimos que iríamos para Jaguaribe, pois é uma praia mais perto e nós nesse dia estávamos sem carro. Além do mar estar calmo nesse dia muitas pessoas tiveram a mesma ideia de pegar um bronze. E a partir daí acontecem alguns encontros. A primeira etapa é o ônibus. Dia de sábado, com esse calor, o mínimo que posso esperar são “criaturas”, uma se “esfregando” na outra em busca do melhor lugar no “buzu”. Tudo bem, alguns empurrões de lá, outros de cá, cheguei, ufa!!Pensei!Que infeliz idéia de vir de ônibus á praia em pleno fim de semana. Mais vamos em frente! Coragem!. De cima percebo o movimento, penso quanta gente, não disse?! Errei o dia?! Mas agora não há mais tempo para desistir, a praia me espera. Encontro uma mesa na barraca Areal, depois de solicitar o cardápio e pedir uma Skol bem gelada, vejo aonde irei sentar para pegar um bronze. Corpos espalhados na areia pareciam mais um rodízio de carnes. Umas mal passadas outras bem passadas e ainda por cima tinha uma criatura que estava esticada na areia cheia de óleo e areia parecia um rosbife empanado tinha carne para todos os gostos. Como se fosse possível avistei um pequeno metro quadrado para “esticar” o meu corpo, olho e logo me sento, senão, corro o risco de perder o lugar ao sol. Reparos nos que estão presente naquele mesmo local. Não é possível, pergunto a meu namorado se hoje é domingo, ele ironicamente diz que não e ri. Relembro os maravilhosos dias que já tive na costa. Procurávamos vir aos sábados porque era sempre mais tranqüilo e não havia “briga” por um metro quadrado na areia. Com o passar dos anos, a situação começou a mudar, não sei se foi o desemprego, o que posso afirmar, é que hoje, as praias vivem lotadas.
Mulheres e homens desfilam para lá e para cá, até parece um desfile de moda. Cada um, querendo exibir o físico, os corpos esculturais. Assim começa a guerra da beleza no litoral da cidade. Mulheres magérrimas, homens super sarados. Só de perceber e pensar no assunto, até tenho vergonha de tirar a roupa.
Biquínis de lacinhos, top less, fio dental, asa delta, entre tantos outros modelitos, detalhe, menores com o passar dos anos. Olho para todos os cantos e lugares, juro que não consigo parar de pensar de como é difícil regrar a alimentação. É dificílimo encontrar um ser humano que fuja do padrão de beleza exigido pela nossa sociedade esquelética (com raras exceções). Começo a me sentir uma estranha no ninho, será que eu sou louca por querer viver feliz sem restrições a alimentação? Tenho quase certeza que sim, no mínimo, um ser de outro mundo, ou é exagero? Saudade mesmo é da época que eu era pequena que usava um maiô rosa e amarelo, as mulheres não eram magras dessa maneira. Pelo contrário, o padrão de beleza exigido era corpos exuberantes, roliços, com volume, ou no mais popular (um pouco grotesco) havia carne para pegar. Com todo esse exibicionismo, as gordinhas são raras nas praias. Tem umas até ousadas, que colocam seus biquínis e tratam de aproveitar. Certas são elas que não se preocupam com o que os outros falam.
Meu Deus, até os farofeiros estão sumindo. Eu mesma quando ia à praia há anos com a família, era certo levarmos nossa vasilha com uma boa farofa de manteiga e o franguinho assado e desfiado. Mais atenção! Só quando a praia era distante, quase deserta, tipo Scarife. Hoje, os alimentos mais procurados na maioria das vezes pelos sarados (as) e esqueléticos são: sanduíches naturais, sucos energéticos, açaí, e seus derivados. Infelizmente já não trago mais a minha farofa, vontade não falta, mas coragem... hum, essa é que não me deixa trazer. Após mais um gole da loira mais exuberante da beira-mar, me dou conta de que também faço parte dessa sociedade com regras impostas.